- Uso privado dos recursos do país e do património público
- Pagamento de “refrescos” aos servidores públicos
- Repressão abusiva da liberdade de expressão e de manifestação
Por CroJud
A corrupção é dos grandes males que frustram o sonho de uma nação independente, desenvolvida e de bem-estar para os seus cidadãos. Este é o entendimento dos Bispos Católicos de Moçambique, que lançaram recentemente uma Nota Pastoral saída da Conferência Episcopal de Moçambique.
De acordo com os bispos católicos, na sua nota pastoral datada de 11 de Novembro, apesar dos esforços e da proclamação de vitórias na luta contra a corrupção, que considera uma praga social, instaurou-se no país uma cultura de corrupção, chegando a pensar-se que é normal, que é assim que as coisas funcionam, que só pode ser assim.
“Faz-se descaradamente o uso privado dos recursos do país e do património público, pondo-se os interesses pessoais ou de grupo acima do bem comum”, lê-se na nota pastoral dos bispos católicos, que acrescentam que a corrupção manifesta-se nas constantes “propinas” (“refrescos”) que se deve pagar aos servidores públicos para receber um serviço que é seu dever oferecerem, assim como no desvio de fundos públicos para fins e interesses privados, no nepotismo e no clientelismo.
Para os Bispos Católicos de Moçambique, a corrupção está na origem da delapidação e destruição da riqueza e de todo o tecido social, mas o aspecto mais grave é que, infiltrando-se nas instituições e no exercício do poder do Estado, a corrupção compromete estruturalmente o projecto de um país livre, justo e solidário. “A avidez, de que a corrupção é filha, por vezes leva a favorecer grandes projectos económicos de capitais estrangeiros, implantados para extrair recursos naturais sem um real e transparente envolvimento das populações interessadas”, consideram.

De acordo com os bispos católicos, milhares de famílias continuam a ser retiradas das suas terras férteis para dar lugar a esses investimentos estrangeiros, dos quais praticamente não tiram qualquer benefício. “Muitas vezes, nas suas regiões, estas comunidades não encontram espaço para darem as suas opiniões, porque são impedidos de falar, através de mecanismos de controlo social que bloqueiam a sua participação. Estes mecanismos de controlo social frequentemente geram medo. Parecem sinais de uma tendência crescente e generalizada de limitação ao exercício de direitos humanos básicos como a liberdade de expressão e de manifestação. O silêncio imposto e as acções de repressão condicionam o caminho de consolidação do país livre e democrático que queremos”, lê-se na nota pastoral.
Deploram a situação de Cabo Delgado, onde continua a se travar uma guerra terrorista que começou com algumas acções violentas há mais de cinco anos, mas não foi imediata e eficazmente contrastada apesar de numerosos alertas, continuando a alastrar-se em zonas mais alargadas, incluindo já as províncias de Niassa e Nampula. “São semeadas destruições e mortes violentas de crianças, mulheres e homens inocentes e pessoas de boa vontade como foi a Irmã Maria de Coppi, assassinada a 6 de Setembro último, no ataque à Missão Católica de Chipene, Diocese de Nacala”, lamentam os bispos católicos, que vão acrescentando que a continuação deste sofrimento desumano é inaceitável e frustra o sonho de sermos uma Nação de paz, concórdia e independente, justa e solidária.
No entender dos bispos católicos, todas estas ameaças e dificuldades não podem fazer cair o sonho da liberdade, da auto-determinação e bem-estar que acompanha a nossa história de país independente e que em breve completará 50 anos. Referem que as qualidades, os recursos e a boa vontade de que o povo moçambicano dispõe são garantia de que uma sociedade solidária e em paz é possível.
A igreja, que se sente parte integrante desta sociedade e que tem a peito o bem do país, reitera o seu compromisso de continuar na assistência espiritual, no diálogo, na educação, na saúde, no desenvolvimento para a consolidação da família moçambicana.
Nesse âmbito, a Igreja Católica irá realizar a II Jornada Nacional da Juventude, que reunirá milhares de jovens na cidade de Nampula, a fim de escutar e encorajar os jovens a pôr a sua energia, criatividade e e generosidade à disposição na construção de uma sociedade baseada na “amizade social”.
Os bispos católicos convidam a todos a se comprometerem na conversão, na mudança de atitudes, a rejeitarem qualquer forma de radicalismo, a superarem a intolerância entre os grupos sociais, tribais, políticos, económicos, religiosos e raciais. CroJud